Rastro deixado na internet inclui de nome da mãe a preferências amorosas

Eis que surge um novo aplicativo. O usuário, interessado, preenche vários campos com informações pessoais e se cadastra. Alguns dias depois, ele se cansa e o app vai embora (ou cai no esquecimento em algum canto do celular). Os dados, no entanto, continuam lá.

Com isso, o internauta vai deixando seu rastro digital. Joga na rede informações pessoais que vão de CPF e nome da mãe a preferências musicais e amorosas. Muitos desses dados estão acessíveis com uma simples pesquisa no Google.

No fim do mês passado, Judith Duportail contou sua história com o aplicativo de relacionamentos “Tinder” no jornal britânico “The Guardian”. A jornalista pediu para o app os dados que tinham sobre ela. O resultado? Oitocentas páginas com informações, muitas delas Judith afirmou desconhecer sobre ela mesma.

“Na prática, as pessoas nem sabem o que está lá [na internet]”, diz Renato Leite Monteiro, professor de direito digital do Mackenzie.

Segundo Monteiro, há uma regra da “necessidade” no armazenamento do conteúdo: os aplicativos devem reter a menor quantidade possível de dados para o seu funcionamento, e apagar após eles terem cumprido sua finalidade.

“Isso impede uma prática comum que é coletar todos os dados que podem, independente de ser útil ou não”, diz Monteiro.

Sites como Facebook, Google e Twitter possibilitam o download dessa informação (veja no infográfico ao lado) e dizem que ela é apagada quando a conta é excluída.

EXPOSTOS

Estudo feito pela empresa de cibersegurança Cipher em setembro vasculhou a internet por “pegadas digitais” de profissionais ligados à segurança da informação –ou seja, pessoas que não são leigas no assunto.

Foram encontrados CPF, data de nascimento, telefone e renda de todos eles. Da maioria (94%) também constavam nome da mãe, endereço e e-mail.

Outro problema: uma vez online, é muito difícil remover a informação. “A internet tem uma memória ilimitada”, alerta Wolmer Godoi, diretor de cibersegurança da Cipher.

De acordo com Bruno Bioni, advogado do NIC.br (órgão ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil), “é difícil antecipar os prejuízos ao usuário” que tem seus dados expostos.

Ainda assim, golpes e fraudes são alguns dos problemas mais citados por especialistas.

NÃO QUERO NEM PENSAR

Apesar dos alertas de especialistas, 30% dos brasileiros dizem preferir nem pensar na possibilidade de um ciberataque –de acordo com pesquisa global da empresa de cibersegurança A10 Networks, divulgada no primeiro semestre de 2017.

“O usuário pensa que o app é seguro e transfere a responsabilidade para terceiros. Pode ser para a equipe de TI ou para quem desenvolveu o app”, diz Daniel Junqueira, gerente de engenharia de sistemas da A10 Networks.

Nesse mesmo estudo, 47% dos brasileiros entrevistados dizem achar melhor ficar sem as calças a ficar sem smartphone. Ou seja, sentiriam sua privacidade menos exposta estando seminus do que ao correr o risco de ter alguém mexendo em seu telefone.

RAPHAEL HERNANDES
DE SÃO PAULO

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